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segunda-feira, janeiro 28, 2002
Che
Peço teu seio rasgado
teu lábio manchado
e perfumado
Agarro teu braço molhado
que corre de leve
por mim
Seja minha chama e arda
enquanto dispo a mim
e a ti, minha amada,
neste amor de festim.
E preste atenção em tudo
pois sem muito esforço
faço logo de ti
um ser de gozo
e lânguido esparramado
te deixo um sorriso
no rosto.
Lembre-se: o nosso ato é um movimento revolucionário.
escrevi isso pelas 10:14 PM
O sono nao pode interromper a brava marcha da literatura!
escrevi isso pelas 10:09 PM
terça-feira, janeiro 22, 2002
Tudo vai dar certo no final.
Eu prometi um fim inesperado e bizarro.
Disso não tenho dúvidas, caros leitores.
Agora, por sinal, nem sei mais quantos e quem vocês são.
Parece que perdi a conta.
Mas tanto faz. Isso não vai me deter.
Farei de tudo, agora em diante, pelas minhas paixões.
É só as coisas correrem um pouco mais devagar.
Amanhã, o emprego, depois de amanhã, o mundo!
Preparem-se.
escrevi isso pelas 10:58 PM
Things
Você geme
é de dor
ou
de prazer?
Cada arfar
cada suspiro
cada dedo
que a carne
toca um acorde
desperta
em mim
algo de novo
ou velho
já sentido
quase mofado
Mas ainda não sei
porque eu balanço
tanto
quanto o alinhamento
deste poema
bobo.
escrevi isso pelas 10:47 PM
sexta-feira, janeiro 18, 2002
Quinta-feira em Am
Deve ser um daqueles momentos na vida em que você percebe que está crescendo.
É uma daquelas horas em que você percebe que já passou bastante tempo desde a última fase da sua vida, e também pode comparar agora com antes - e não apenas isso - vários antes, e você prefere evitar de pensar no futuro e, nos momentos mais tristes, no presente também.
Enfim. Resolvi andar hoje. Andar, andar, andar. Sair pelas ruas e pensar um pouco. Acho que isso é sempre algo bom de se fazer, mistura exercício com recordações e um toque bonito de pieguice. Eu gosto de pieguice. Não sei exatamente o que quer dizer, mas sempre é algo que me dá vontade de chorar e no último segundo eu seguro. Como uma música do Django Rheinhardt.
Por isso, logo me vi na Maria Antônia, cruzando a dita cuja, entrando no Mackenzie. 19 anos depois. Esqueci de explicar, estudei 18 anos nesta respeitosa instituição. Logo na entrada, já revi alguns velhos amigos: a lanchonete do Borges e o prédio 9. Lógico, ambos continuam decadentes. O prédio 9 mais do que todos, e senti uma pontada de angústia ao perceber que agora ele estava reformado, sem as baboseiras artísticas da arquitetura, e todo dividido em setores: Teologia, Filosofia, Geologia, etc. A velha bagunça superada pela nova bagunça.
Logo, notei outras mudanças. Novos tijolos. Toldos de plástico. Um bar totalmente reformado onde antes fora o Bar Central, novas placas, novas pinturas, novas pedras na passagem. Até mesmo a Pré-escola parecia diferente, e encontrei algumas construções que aparentavam não ter nem meses de idade.
Mas havia pouca gente pelos espaços abertos e prédios, pouca gente até mesmo nos concorridos bares e lanchonetes ao redor, e o lugar mais movimentado onde entrei foi a farmácia, que vendia camisinhas a preços exorbitantes. Trepar, afinal, sempre sai mais caro do que parece. E, de repente, me peguei sozinho no corredor do atletismo, vendo um único gari limpando a quadra, que não devia ver solas de tênis há muito tempo. E aí também entrei num parafuso de memórias, de esportes jogados com má vontade, e de poucas mas apreciadas garotas de shorts saltitando entre 200 milhões de hormônios masculinos fazendo hora extra. Tudo era divertido, na época. Só o gari parecia não se divertir.
Continuei. Estava um sol discreto, mas quente. As nuvens escuras queriam gritar mais alto, mas o sol não se intimidou, continuou derramando calor nos pátios mackenzistas. Em outro mergulho lisérgico nostálgico, vi o Fabrício correndo em direção ao prédio 9, com um projetor na mão, dando risada que nem um moleque fugindo no pega-pega.
Saí correndo também. Segurei uma lágrima que se atrevia pelos canais tais que ficam ao redor do olho. Foi fácil, até, mesmo quando Andrés, Humbertos, Priscilas, Edsons e Fernandos me invadiram a mente, irriquietos, tentando me desconcentrar. Lembrei do belo sorriso das garotas, lembrei da fumaça de cigarro, lembrei do zumbido constante das conversas animadas. Mas não havia nada disso. Pelo menos, naquele instante.
No momento seguinte, descobri que estava perdido. Tudo estava estranho demais, este não era o lugar em que eu estudara por tantos anos. Parei, respirei fundo, fiz uma respiração completa. Agora sim. Podia enxergar além de maya como um iogue malandro, além do terrível véu da realidade, transcendendo meus sentidos. Estava tudo e todos lá, ao mesmo tempo, brincando e conversando, lutando nos gramados aos 15 anos, procurando classes aos 18, fazendo lutas de bonecos aos 7, discutindo Bukowski aos 21, esperando os desfiles aos 12. Pessoas velhas, garotos, mulheres, partidos, beldades, inimigos, desafetos, estavam todos em todos os lugares, preenchendo aquela memória fabricada, mas tão calcada no que antes fora realidade e hoje se chamava "lembrança".
Pesado demais. Fugi mais uma vez, e finalmente alcancei os portões escarlates, conquistei a calçada, cheguei à rua. Livre. Mas não dos pensamentos, que me cercavam na forma de barraquinhas de cachorro-quente e esquinas turbulentas. Continuei minha escapada e me refugiei em outro antro perigoso, uma livraria, já que o Marcão sanduíches estava fechado. Não foi uma boa idéia, o cheiro dos livros havia sido esquecido, e a agradável sensação de discutir cada título de cada prateleira com os bons companheiros antes de uma cervejada me atacou de surpresa. Havia esperado o celular tocar. Na verdade, não esperava, ele estava inutilizado como estava. Mas, mesmo assim, queria que alguém ligasse. Não sei se era alguém em especial, mas fosse quem fosse, seria ela mesma.
Logo entendi que tudo que eu via, de um chiclete a um poste, me trazia milhões de memórias, se desdobrava em fractais e infinitos significados e significantes, como um pesadelo de Roland Barthes. Tudo era tudo e era nada. Ao mesmo tempo. Metafísica simples, mas talvez só alguns poucos me entendessem, neste momento. Imaginei o livro laranja do Saussure voando e acertando a cabeça dos professores, as nossas, decolando por entre as camisinhas caras e preços de livros, sendo xerocado no DACAM por mãos negras e marcadas, se alojando em um esconderijo secreto nas pastas de desenho e por fim explodindo no céu negro como a uma sala de revelação fotográfica.
Realmente, estava exausto. Meus 40 minutos de caminhada me levaram por 22 anos de trilha, cruzando caminhos esquecidos e abandonados. Nem todos, claro; alguns pareciam nítidos, de outros, guardava lembranças diferentes. Mas 40 milhões de nomes e 40 milhões de rostos estiveram ali. E eu era todos eles. Por isso amava a todos.
Voltei para meu prédio, hesitante e cambaleando, como se hiperventilasse. Lembrei dos meus problemas.
Infelizmente, nenhum daqueles 40 milhões parecia saber qualquer tipo de resposta. Nem a minha psicóloga. O celular tocou. Era, finalmente, alguém. Ironia, fosse quem era, não era quem eu queria.
Estranhamente, quase me senti feliz.
Acho que é isto ser canceriano.
escrevi isso pelas 2:17 AM
domingo, janeiro 06, 2002
Alegre a vida bêbada
do bêbado que se finge
despreocupado
no recanto do canto de seu quarto
onde, solitário, ele pensa
que teve um ótimo fim de ano
e boas festas
e ano novo
e natal
e ele sorri feliz enquanto
o efeito do álcool o mantém sóbrio
ao menos na felicidade
uma sobriedade mais triste do que alegre
sendo que
apenas mais um pouco de álcool
iria tirá-lo do páreo
e mandá-lo sonhando para perto
de quem ele gostaria de estar
que está longe bem longe
cerca de 1700 km
mas quem se importa
ele promete - como resolução de ano novo!
se comportar e não tentar
mais
assediar as mulheres de outros
e continuar sendo
um eunuco bem comportado
e ótimo amigo
e bom companheiro
assexuado porém
feliz
e
seguro
Sim, é assim
sozinho e solitário
com seu piano e guitarra
que ele vai fundo
que ele consegue
ir sobrevivendo
chega de mesmice e encheção
é assim que vai ser agora
das 9 to 5
ele vai viver ele mesmo
egoisticamente
e ninguém vai encontra-lo
nem no ICQ
nem no CEP
nem no CEL
em nenhum lugar
deixou as responsabilidades para trás
e resolveu ser e sentir
ou apenas sentir
a estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria
e daí?
>>>V
escrevi isso pelas 2:13 AM
terça-feira, janeiro 01, 2002
Não é impressionante o quanto não sabemos e entendemos a nós mesmos? Digo, é praticamente o mesmo o quanto você entende de si e quanto você entende, por exemplo, da formação dos ventos solares. Na verdade, acho que o lance dos ventos é até simples. Que idiota, aposto que até os louva-a-deus devem se entender melhor que os humanos. Ô raça!
Argh, fim de ano solitário é uma merda mesmo. Que porcaria. Me sinto num processador de alimentos há uma semana já. Essas "férias" de uma semana realmente foram super-legais. Pelo menos para minha psicóloga, que acabou de garantir mais uns 2 anos de terapia às minhas custas. Quanto àquele exercício de "relembre um momento que você teve um acesso grave de sentimento de culpa" vai estar bem mais vivo na minha memória. E no meu estômago, cabeça e costas. Putz, eu deveria ter pulado mesmo...
escrevi isso pelas 5:25 PM
Espero que você volte.
E logo.
Porque estou aqui sozinho.
Ha! - no canto do quarto - literalmente.
Os amigos não conseguem preencher este espaço tão gigante.
E o fim de ano foi um cocô.
Enfim... feliz 2002 para todos vocês, bunda-moles... se este ano for pior que 2001, vai ganhar um oscar de melhor filme-catástrofe... arre.
Espero que 2002 só veja blogs felizes e sorridentes e todos aprendam a soltar suas frangas sem seqüelas e arrependimentos. É só aprenderem comigo (como não se faz).
escrevi isso pelas 5:18 PM
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